Vamos juntos ao Evangelho de Marcos, capítulo 4, dos versículos 35 ao 41. A Palavra do Senhor nos diz:
— “Naquele dia, ao anoitecer, disse ele aos seus discípulos: ‘Passemos para o outro lado’. Deixando a multidão, eles o levaram no barco, assim como estava. Havia também outros barquinhos com ele. Levantou-se um forte vendaval, e as ondas se lançavam sobre o barco, de forma que este já se enchia de água. Jesus estava na popa, dormindo sobre uma almofada. Os discípulos o acordaram e clamaram: ‘Mestre, não te importa que pereçamos?’ Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao mar: ‘Aquieta-te! Acalma-te!’ O vento se aquietou e fez-se grande bonança. Então perguntou aos seus discípulos: ‘Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?’ E eles, cheios de temor, diziam uns aos outros: ‘Quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?'”
Talvez você conheça bem esse texto. Mas algo maravilhoso acontece quando permitimos que o Senhor fale novamente conosco através de uma passagem já conhecida. Ele ministra de formas diferentes, em tempos diferentes, para propósitos diferentes.
Passei a semana em oração, pedindo ao Senhor uma palavra específica, uma palavra rema, viva, que nos trouxesse direção. E, passado alguns dias, o Senhor ainda não havia falado claramente comigo. Continuei buscando, insistindo: “Senhor, o que o Senhor quer falar com os Teus filhos?”.
Então, o Senhor me trouxe este texto de volta à memória. Eu já havia meditado sobre ele antes, mas dessa vez é diferente. Senti claramente que Ele queria falar algo novo e poderoso para esse novo tempo que estamos vivendo.
“Passemos para o outro lado”
O primeiro destaque neste texto está logo no início, no versículo 35: Jesus disse: “Passemos para o outro lado”. Pode parecer apenas uma instrução geográfica, mas há muito mais por trás.
Jesus e os discípulos estavam vindo de um contexto de curas, milagres e maravilhas. Eles já estavam vivendo o sobrenatural. Mas, mesmo no meio de tantas experiências, Jesus os chama a ir além. E isso nos ensina algo profundo: Deus nunca nos chama para estagnar. Ele sempre nos chama para avançar.
Jesus diz: “Vamos”. Ou seja, Ele está junto. E o convite para ir ao outro lado é, na verdade, um chamado para o profundo, para um nível maior de intimidade, fé e revelação. Mas há um detalhe: é preciso deixar a multidão.
Versículo 36: “Deixando a multidão…” — Há momentos em que o Senhor vai nos chamar para sair do meio da agitação, da zona de conforto, do que é comum, para viver algo reservado, algo entre Ele e nós.
O teste da tempestade
Logo após atenderem ao chamado, vem a tempestade. Versículo 37: “Levantou-se um grande temporal de vento…”. E Jesus? Dormindo.
Isso mexe conosco, não é? Ele chama, nos tira da multidão, nos leva ao profundo — e permite a tempestade. Quantos de nós, ao ver o vento contrário, pensamos: “Senhor, por que me trouxe aqui? Eu estava bem antes. Já estava vendo milagres!”
Mas essa é a chave: até aquele momento, os discípulos estavam apenas vendo. O que estava prestes a acontecer os ensinaria a confiar e agir pela fé.
Talvez você esteja nesse ponto. Você já viu milagres, já provou do mover de Deus. Mas agora é hora de confiar, mesmo quando parecer que Ele está “dormindo”. Porque Ele está no barco. Ele nunca saiu de perto. E basta uma palavra d’Ele para trazer bonança.
Jesus, então, acalma o vento e o mar e faz uma pergunta direta: “Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?”.
Quantas vezes já experimentamos o agir de Deus e, mesmo assim, na próxima tempestade, duvidamos? A fé que vimos operando ontem é a mesma que precisamos hoje. O Deus que fez antes é o mesmo que continua fazendo. Mas Ele quer nos amadurecer. Ele quer nos preparar para coisas maiores!
A outra margem
Agora olhe comigo para o capítulo 5 de Marcos. Após atravessarem, o texto diz que, “chegando à outra margem, encontraram um homem com espírito imundo”. Não era um caso comum. Era uma legião de demônios.
Perceba: a tempestade não era o fim, era o preparo. O que esperava do outro lado era um nível mais profundo de autoridade, um confronto espiritual intenso. Aquilo não era para qualquer um — era para quem foi separado da multidão, para quem estava sendo treinado pelo próprio Jesus.
Mais à frente, em Marcos 6, Jesus volta à sua terra e é rejeitado. E quem está com Ele? Os discípulos. Eles precisavam ver que até mesmo o próprio Cristo foi desprezado entre os seus.
Ou seja, Jesus está ensinando: “Querem fazer parte do meu ministério? Então aprendam também a lidar com o desprezo, com a resistência, com a rejeição. Isso também faz parte.”
O chamado de Jesus para “passar para o outro lado” não é um convite para uma travessia tranquila. É um chamado para o amadurecimento. Para confiar mesmo quando o mar está agitado. Para aprender a viver o sobrenatural de forma ativa, e não apenas como espectador.
Deus está nos separando. Está tirando da multidão. Há algo reservado — algo que não é para todo mundo. É para quem é filho. E quem é filho recebe herança.
Queridos, o Senhor está dizendo: “Vamos para o outro lado.” Vai haver tempestade? Sim. Mas Ele estará no barco. E, no momento certo, com uma só palavra, Ele trará bonança.
Só precisamos confiar, estar dispostos a ser ensinados e dizer: “Senhor, com onda ou sem onda, eu vou contigo. Eu quero o profundo. Pode fazer do Teu jeito.”
